quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Um bem velhinho

para sempre Fernando Pessoa



eu...
qual eu?
como eu se não existo?
sou um átomo apenas
uma conjugação de factores
agregadores
eu?
onde?
na outra ou em mim?
eu plenipotenciária
de mim mesma
criadora e não autora
contudo, sonhadora,
visionária
não do V Império
mas do mistério
que há em mim e na outra.

HFM - in Resist(ir) Assim, Poesia a Doze, Editorial Minerva, 2000

domingo, 22 de fevereiro de 2009


Há ainda o olhar e as mãos. A coluna onde me esperavas e o mundo desfazendo os contrários. Subia a noite quando o cello chorava.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009



Quando os caminhos precedem a presença há uma aceleração geométrica no ar. Depois, na rua barulhenta silenciam-se as vozes e só o sorriso invade o frio e os medos. Ecos de eternidade.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um bem velhinho

Confissões

sentei-me, hoje, aí contigo
na pequena mansarda que habitaste
bem perto da casa de meus pais
num esconso duma leitaria
e entre um bolo de arroz
e um café
deixei-te fazer o meu mapa astral

que susto!
quando me afirmaste
que quem nasceu nesse dia
nessa hora, nessa cidade
não fora eu - era a outra
a criança encurralada
na casa grande de Campo d'Ourique
a que dava dissabores
a que não estudava
a que tinha medos sofridos
a que inventava
essa, a tal,
a desconhecida
a que cedo aprendeu a calar
seu interior
a que só se afirmava
na solidão
a que passava encostada às paredes
a que na sesta obrigatória
contava histórias a si própria
a partir das sombras que passantes
projectavam na parede;
a outra, a espalhafatosa
a que ria
a Maria Rapaz
a das correrias e amigos
não existia
não nascera
era fumo
pura invenção
raiva e disfunção

depois... ao veres meu medo e cobardia
lançaste teus castelos ao vento
e no teu jeito melancólico
distanciado, solitário mas vibrante
falaste-me dos teus muitos outros
e ainda dos outros que nunca verbalizaste
dos inventados para baralhar
o burguês académico e pseudo-intelectual
daqueles que não chegaste a encontrar
mas que pressentiste
nos teus corredores de solidão
que, em ti, formavam um labirinto
depois ainda
largaste a rir
da tua estátua na Brasileira
"- pobre de mim, maltratado em vida
depois de morto, ao sol, à chuva,
às festinhas dos passantes
dos solitários que comigo conversam
dos turistas que me levam nos seus
daguerreótipos actuais.
...
e a Casa Fernando Pessoa?
- onde me quiseram cercar -
aquele vespeiro de lobbies
de senhores que se acotovelam
para em biquinhos dos pés
serem maiores do que eu!...
...
deixem-me rir...
e dizem alguns que eu era louco!
tudo depende do ponto de vista
ou do ponto de fuga!..."

pois é, mestre,
é preciso fabricar loucos
para serenar os espíritos vãos
daqueles que nada são!

e porque estava frio
saímos os dois de braço dado
ao encontro dos nossos eus

Lisboa, 28 de Janeiro de 2000

sábado, 14 de fevereiro de 2009


Nas raízes te levo. No tempo sobrevivente. Na distância que é já agora.

Porque o momento é zen.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Quase de partida



Preparando o material onde me irei expor - reflexo de olhares e sentires.

Ficarão, agendados, alguns textos e poemas antigos.

De vez em quando, ao sabor de uma net encontrada, virei até aqui deixar impressões, não imagens. Será um tempo longo mas prometo voltar e, então, darei longas notícias. As sazonais viagens.

Até lá.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009



foto de hfm - Londres Regent's Canal


Falo-te das cavernas onde se acobertam as sombras
do frio que conduz os sentimentos
da pedra que canta memórias
do musgo de um tempo com tempo
falo-te dos dias a haver
e do ciclone rasgando horas

na tua voz desassossegada
há rios e a melodia dos silêncios

aí se solta o eco.


HFM - Lisboa, 8 de Fevereiro de 2009


sábado, 7 de fevereiro de 2009

De mar a mar


foto de hfm



só a vaga ocultando o sorriso
rasgando sombras
encadeando olhares

assim se naufraga
voluntariamente

HFM - Ericeira, 6 de Fevº de 2009

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Haikais

falésia térrea
despenhando-se no mar
erosão humana

os flamingos rosa
exibem-se no pântano
outra passerelle

lãs multicolores
transformam juta em tapetes
pontos de artesã

o vento insurrecto
rodopia nas pessoas
quebram-se vaidades

dunas verdejantes
sobre a areia e o mar
pingos de miragem.

HFM - in Resist(ir) Assim, Poesia a Doze, Editorial Minerva, 2000

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Das preciosidades

Encontrado num velhinho livro de poesia muito manuseado na minha adolescência.








segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

na manhã de sol

corta as mãos o frio

sinais de vida.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Com destinatário