sábado, 31 de outubro de 2009




Ouvi-te murmurar uma canção
quase um arrepio
como o vento no labirinto
silente
quase o ondular do cisne.

Cantata de demência.





HFM - Lisboa, 26 de Outubro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009



da nossa mansarda
por entre os vidros
coloria-se a cidade e a vida.

HFM - Lisboa,26 de Outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Anoitecidos




Correm sempre ao contrário da trama os regatos desperdiçados. Clandestinos assumidos percorrem os regos na certeza de que, um dia, hão-de chegar ao mar. Têm dias. Aqueles em que o vento os empurra em sentido contrário. Aí acoitam-se na estação sem chuvas, ao abrigo das pedras e dos gatos. Numas férias onde, contra as pedras, se ferem, dilaceram e perturbam. Um dia ressuscitam. E calhau e pedras abaixo perdem-se em direcção ao mar.


HFM - 24 de Outubro de 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

A chegada

O computador tinha-a avisado de que o jacto chegaria dentro de três horas. Olhava fixamente o monitor com aquele olhar que mais parecia o da impaciência das crianças. De repente viu no ar a sombra do jacto que tão bem conhecia. Um arrepio percorreu-a. Com uma pressa quase doentia vestiu o fato espacial. Desligou o computador. Fechou a porta e dirigiu-se ao terraço que ficava no alto de sua casa. Carregou, então, no botão que ficava junto ao seu coração e num impulso vigorosamente suave foi ejectada espaço fora. Há muito que tinha traçado a rota. Direcção – jacto 4097KB. Em breves segundos sentiu que uma força estranha a fazia descer suavemente sobre um relvado. O seu olhar seguro e certeiro num ápice encontrou o jacto e confiantemente dirigiu-se na sua direcção esperando que a porta se abrisse e dela...

- Ó mãe, podes passar-me a minha consola? vais ficar toda a tarde a jogar os meus jogos?


HFM - Lisboa, 19 de Outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


HFM


Intemporais são as brumas carregando o olhar e os gestos que afagam a revolta. Na margem dos contrastes afogo toda a insolvência num acrobático esgar de ternura.



HFM - Lisboa, Outubro 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


HFM


Dizer-te da linha ocre de terra
bordejando lagoa e olhos
seria apontar uma vírgula no céu
que um fugídio avião deixara
escorrendo branco no cerúleo da imensidão.

Silêncios ampliando das cores o coro e todos os sentimentos.





HFM - Lago Azul, Ferreira do Zêzere, 18 de Outubro de 2009


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Anoitecidos




O sopro no arrepio do vento que secou a vela. A brisa que tudo leva quando se distende num vento surripiador. A secura na boca que nenhuma água dessedenta. Os travões correndo fortes evitando o acidente. O som sibilino do silêncio. A frescura e o sorriso que nenhuma situação mata.

Assim são feitas as madrugadas da esperança.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

For ever




quarta-feira, 14 de outubro de 2009






Quando o imprevisto cede lugar à certeza há espanto e medo. E um fiozinho de nervoso percorrendo a espinha. Convoco todas as memórias - as verdadeiras, as correctas, as esfumadas e aquelas que sou capaz de romancear. Depois passeio-as. Ad eternum. Como um rumor, um eco, ou tão só o sibilino rasto do vento. Assim me quero. Assim me sei. Assim me distendo. Na eterna procura da sabedoria contida nesse provérbio chinês:


Mesmo que tenha mil léguas toda a estrada começa por um passo.




segunda-feira, 12 de outubro de 2009



O labirinto desaguava na cisterna onde se bifurcavam as águas. Outra decisão se impunha. Qual dos caminhos? Como a vida, ou será o contrário? Assim me perco na pedra das antigas mansões onde maçons construiram o losango do chão sob o olho e na certa amplitude do compasso. Senti que alguém media a pegada que imprimia na lama e que qualquer chuva miudinha apagaria. Apenas uma mancha na sabedoria ancestral.

Pedra sobre pedra onde residem as migalhas do tempo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sem título





Entre gaivota e garajau
ausência de certezas.

HFM - Porto Pim Setº 2009



quarta-feira, 7 de outubro de 2009






Eu não te disse que te contaria das horas o eco e todo o silêncio da distância? O búzio que te oferecerei levar-te-á da ternura a difusa cadência de todos os sentires.





HFM - 6 de Outubro de 2009




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sem título



HFM


Quando da chuva só restam os pingos
ouve-se ao longe o eco

transumâncias.


HFM - 5 de Outubro de 2009



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Hiatos




Quando os hiatos só contribuem para a não monotonia
tudo fica cinzento e as bifurcações não têm saída.

Alguém me disse que o sol volta sempre.

HFM - Lisboa, 1 de outubro de 2009