sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Bom Ano




Com esta aguarela vos desejo um Bom Ano e traduzo livremente o que li, algures, num blogue, em inglês; estou citando de cor




DESEJO-VOS QUE AS COISAS MÁS DA VIDA SE ESTENDAM POR 2010


E AS BOAS POR 2011


Já agora escusam de exagerar no champanhe deixem algum para os próximos(as)...

Até para o ano.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010



A aurora desconhece-se na cidade
Só o resquício da lua nos fala da transição

e a espera de que a chuva enverdeça a paisagem.


HFM - Lisboa, 28 de Dezembro de 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Confissão



haverá no céu o luar
o orvalho nos campos
as ondas bailando no mar

sempre que as tuas mãos espelharem o nada
no eco de todos os silêncios.

HFM - 22 de Dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Boas Festas



para lá do voo - o infinito
e o sorriso da criança
baluarte de vida
congregando no precipício
as forças da harmonia



hfm-18.12.2010




Para todos os amigos, os leitores deste blog e aqueles que, ocasionalmente, por aqui passam



UM BOM NATAL

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Nocturno



Desdobram-se nas esquinas os ventos
quando na noite se encerram os gritos
como um cello perdido ouve-se então
a rouca melodia das memórias
tangidas nos veios do tempo


sinais indeléveis perseguindo futuros.

HFM - Lisboa, Dezembro 2010










domingo, 19 de dezembro de 2010

Divagação matutina



Era constante o frio na manhã embaciada. No ar um misto de promessas e agressividade. E no céu, largamente confundido de nuvens, brilhava, donde em onde, uma mancha de cerúleo. Também havia brilho em alguns homens que passavam enrolados em grandes e grossos cachecóis; uma imagem um pouco insólita na minha cidade. As árvores despidas, ou quase, reacendiam a luz nas suas folhas amarelas e castanhas avermelhadas. Um cenário que em breve se apagaria quando o tempo se fixasse, se decidisse. Era esta hesitação, no silêncio da manhã de sábado que fazia do cenário o espectáculo sublime do quotidiano. A perfeita descoberta do que rodeia a minha janela numa manhã de Dezembro fria, inóspita, rasando a fundo a densidade do sublime e dos seus constrastes.

Arregacei as mangas do olhar e fiz-me à estrada da visão onde o sublime enternecia a alma.

Estranho momento de raridade, tão efémero como o sublime!

HFM - 18 de Dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Montepulciano

Uma das belas cidades da Toscânia que não conhecia e a que cheguei, infelizmente, ao lusco-fusco o que me permitiu aperceber-me apenas da sua beleza alcandorada no alto da colina. Uma terra que produz um afamado vinho que foi bem apreciado. Ficam as imagens conseguidas por telemóvel. E a saudade.














quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Para lá de



Quando a bruma encerra a cidade a fuga é imperativa. Como uma promessa. Um presságio. Um feitiço. Sei que facilmente atravessarei esta parede e os meus olhos adivinharão os contornos do infinito. Falta apenas, ao fundo, a grata definição de um arco-íris!



HFM - Lisboa, 14 de Dezembro de 2010

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010



se a água te mostrar a alma
sorri, é a tua


ela é livre!



HFM - Lisboa, 30 de Outubro de 2010



sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando apátrida me tornei

Todas as errâncias me são consentidas
no aforismo do absurdo
aí, reacendo o reflexo no estreito ângulo
onde te procuro

insaciável tangente de loucura.



HFM - Lisboa, 20 de Novembro de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Acervo de códigos



berbére era o teu nome de sombra
luz incendiando as dunas

um presságio no silêncio das cisternas.


HFM - 6 de Dezembro de 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Florença


Um dos muitos locais imperdíveis em Florença - Santa Reparata a primeira igreja sobre a qual o Duomo foi construído. Uma escavação bem sucedida e com grandes preciosidades.

As fotos foram tiradas com o telemóvel.








sexta-feira, 26 de novembro de 2010





HFM - claustro das Descalças em Florença - frescos de Andrea del Sarto





O silêncio era a aura do dia e o retorno mágico de cada segundo. Envolvia todo o claustro e cada passo ecoando desaguava no mundo como se a clausura fosse a eterna liberdade do deserto.




HFM - 18 de Novembro de 2010


quarta-feira, 24 de novembro de 2010




o sopro da gargalhada
no vento do riso

o palhaço aplaudia-se


HFM - Lisboa, 22 de Novembro de 2010



segunda-feira, 22 de novembro de 2010



Underwood, Philly Shadow, quilted silk.



houve um momento
pausado e inóspito
nesse novembro
quando a arquitectura interna
se tornou cenário
e o trajecto a fazer
um mero aforismo

nem sombra
nem passagem
um código de fuga

um momento em novembro.



HFM - Lisboa, 18 de Novembro de 2010


sexta-feira, 19 de novembro de 2010



Quando te falar do sal do tempo
as brumas terão corrido junto ao mar
num acervo de trajectos efémeros


uma orgia de cellos
na espiral dos murmúrios.


HFM - Lisboa, 17 de Novembro de 2010



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Criptograma


Depuro o teu olhar
simplifico o teu corpo
abraço cada pormenor
retenho o código
a senha
ainda a memória

na imperfeita profecia
é meu o negativo.

HFM - 12 de Novembro de 2010



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Do diário




Dizem que o presente é que conta. Quase uma afirmação tipo M. de Lapalisse. Mas não carregamos em nós as memórias e não nos projectamos nas encruzilhadas da vida?

Parece-me que sim; que se enganam os que apontam o presente como o único momento que interessa agarrar à outrance. Dir-lhes-ei que basta viver o momento para ser passado.

Estranho ângulo de visão!

Quero para mim o PASSADO, o PRESENTE e o FUTURO. Como num puzzle onde sou apenas um peão com poucas ferramentas!

Talvez aí resida o que a vida tem de melhor!


HFM - Lisboa, 14 de Novembro de 2010

sábado, 13 de novembro de 2010

Diurnos

hfm



A lâmina era pura. Nela se sentia o poder e a visão do sangue. Sinais oscilantes. Punhais de incerteza. A magia que atrai.

Como um acrobata a vida desenrola-se na vertente mais próxima do fio.

Como uma regra. Ou será um prenúncio?



HFM - 12 de Novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Murmuraste silêncio
ao ouvido da lâmina da vida



tudo fez sentido.



HFM-19 de Setembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Como num quadro de Hopper





corria a brisa na tarde
e o velho sentado na pedra
com os pés dentro de água
pousou a mão no seu ombro
entregando-lhe um papel

disse-te adeus numa noite de chuva
quando as estrelas por haver
quebraram o silêncio
e o dia não chegou

fustigava a chuva o infinito.


HFM - Lisboa, 1 de Novº de 2010


domingo, 7 de novembro de 2010

Eu, agnóstica, me confesso





foto de HFM



Profética é a onda que não desiste. Enrola em tempos calculados e, quando tudo parece matriz, desatina e abala. Assim são os meus tempos. Aparentemente acertados, contudo, tão desatinados. Excessos de desassossegos na fímbria onde envolvo os dias. Centelhas de liberdade na afirmação própria da vida que quero viver. Aberta. Vertical. Onde o encontro do eu com o comigo se faz num diálogo profícuo de mudanças. Porque o sinto, tento adaptar essa vida aos outros; porém, rejeito em absoluto as baias, as formas, as inúteis obrigações - quero um convívio de extremos partilhados. Chegam as situações extrínsecas que não posso dominar.

Assim me quero. Assim me devem aceitar. Com estas premissas todas as estradas se podem percorrer porque, na paz interior e única, em todas elas se encontram silêncios, clareiras, narrativas por inventar e até rendições consentidas.

Confesso que preciso de mim. Bem. Sem preconceitos. Nos meus silêncios. Nas minhas alegrias. Nos meus convívios. Nas ninharias que só eu compreendo. Nas minhas motivações aparentemente sem sentido.

Preciso de respirar. Quero viver.

Assim me confesso. Assim me quero. Assim. sou.

HFM - Lisboa, 23 de Outubro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ao gosto do leitor (ler de cima para baixo ou vice-versa)


Quando não encontro matéria no vocábulo
só o silêncio traduz o sentido


radical


HFM - Lisboa, 21 de Outubro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sem título


Zoroastrian Tower of Silence in Mumbai


Só do silêncio se solta a palavra

no equilíbrio da língua universal.




HFM - 15 de Setembro de 2010

domingo, 31 de outubro de 2010


Patagónia-Cerro Torres



Sangue, sol, silêncio. Paz de ar rarefeito. Reflexo aguado que nenhuma aguarela imita. Lugares inacessíveis. Por isso preservados. A sabedoria da pedra e do olhar que reaprende a ver.


HFM - Lisboa, 28 de Outubro de 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Il capolavoro


Desdobra-se na visão a paisagem
um simples olhar
fino e profundo
olhar interior
atónito e aberto
fio condutor das culturas esquecidas.

Acompanhando o olhar a mão
gesticulando no vazio
traços etéreos sem suporte nem médio
uma ausência e a profundidade
um olhar para além da visão
a lente perfeita na abertura correcta


assim se escutam as palavras na tela.


HFM - Ericeira, 15 de Setembro de 2010



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sem título




foste-me


raiz do nada
onde o infinito se prende.





HFM - Ericeira, 9 de Setembro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Reaprendendo a Mitologia





Quando as tardes envelhecem mais cedo
guardam-se nos labirintos as memórias
e o desgaste do galope do tempo

linho envolvendo a tenacidade
quando o mar empalidece o discernimento
confundindo azul e universo

aí reencontro o rasgo, o grito, o impulso
concentrando-me na perenidade do transitório

rompendo o ar com um uivo rouco e dorido
sem norte nem clausura

como se as Parcas me tivessem escolhido.


HFM - Lisboa, 20 de Outubro de 2010



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Regresso

Apenas dois apontamentos retirados do caderninho que sempre me acompanha. Não sei o que faço ao tempo mas, cada vez mais, ele escorre rapidamente e eu tenho menos tempo para o apanhar em palavras. Pelo contrário cada vez ele escorre mais lentamente dentro das recordações.


1º apontamento

Não te direi do cerúleo que cobre o infinito - nele te procuro nos espasmos que a vida engasgadamente nos oferece - farrapos de céu que algum louco desenhou.

Algures no céu a caminho de Milão - Outº de 2010


2º apontamento

Início de outro dia - Milão, 2 de Outº. Vou visitar o meu amigo e, desta vez, com hora marcada! Tenho de me ir arranjar Leonardo espera-me!


terça-feira, 28 de setembro de 2010



No silêncio recolho as expectativas. Tento esvaziar-me. Só assim, depurada, estarei aberta a todas as emoções e descobertas. Num canto, olharei para lá dos turistas e das máquinas fotográficas dos japoneses e, como em oração, esperarei que essa cidade se continue a desvendar. Lenta. Lentamente. Ao sabor de cada nova visita. De cada novo olhar.


Até breve Lisboa, vou ali à tua concorrente - Firenze.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

só as palavras podem completar o que não se compreende
nelas encontro a liberdade que os amantes não permitem
a aurora do sussurro indefinido que ainda é gaguez
a ternura que alguém não conseguiu selar
o sangue que o mar aparta no fulgor do farol esquecido


poeiras do quotidiano que a memória arrefece.


HFM - Ericeira, 10 de Setembro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Per te





CONJURA DE SENSIBILIDADES

(ouvindo o concerto de Mozart pela orquestra filarmónica de Berlim dirigida por Pierre Boulez sendo solista Maria João Pires)


Leve, levitava
num som interior
quase etérea dessacralizada
num mundo outro, sem penumbras.
Os lábios - sábios domadores do compasso -
antecediam promessas
visualizavam harmonias
e, sob as mãos de Pierre Boulez,
sem batuta,
organizavam-se sons, que escorriam,
impetuosos puros vibrantes
das cúpulas e colunas
do Mosteiro dos Jerónimos.
Ao fundo, desfocado em bruma
- como D. Sebastião -
Camões pensou
que os dedos daquelas mãos,
femininas e rudes,
tinham dobrado o Bojador.

Depois, adormeceu e pacificou.


HFM - Lisboa, 1 de maio de 2003


Agradeço ao meu amigo Eduardo Graça que me deu a conhecer o vídeo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010


dir-te-ei dos lábios ressequidos
no fragor da revolta
quando o mar se esconde
na secura da baixa-mar

aí se ouvem os ocasos
e o cântico dos náufragos
sem retorno

areias de equinócio
engolidas pelas ondas


ao largo afoga-se um bote.



HFM - Lisboa, 20 de Setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sem título



Quando o silêncio é um grito
e a ave caiu exausta


só o pavio brilha.




HFM - Lisboa, 20 de Setembro de 2010



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sem título


Nas manhãs paradas
dir-te-ei da transversalidade
das inquietações
e das miragens


linhas de fogo por onde transitamos.



HFM - 14 de Setembro de 2010



sexta-feira, 17 de setembro de 2010




percorri a estrada. pelo menos imprimi nela os meus passos. não encontrei a encruzilhada. perdida, rasguei na terra o sulco da substância. este fugiu-me por entre os dedos como numa renda esfiapada. galgando pedras descobri o rio e fiz-me ao mar.

aí me quero. aí me encontro. nele, o som, a cor e o sal deslizam na vida como uma aguarela de Turner. apascentando os meus silêncios.


HFM - 11 de Agosto de 2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010



Procuro no meu interior a linha de água. O fio condutor. Ainda aquele que Ariadne me queira oferecer para percorrer este imenso puzzle interior onde os labirintos e as cisternas se sucedem sem nexo nem casualidade. Rasgões. Feixes imprecisos. E, por momentos, um caminho que principia. A razão aqui torna-se inconsequente. Desprezada. O caminho tem regressos insuspeitos. Inquebráveis. Alargados. Caminhos donde se ausentaram a compreensão e as possibilidades.

Precisaria de uma equipa de espeleólogos para, em mim, encontrar a forma de vencer os obstáculos mas fui aprendendo que atrás de um outros virão como numa viagem sem fim.

Será por isso que sou viajante compulsiva?



HFM - Ericeira, 9 de Setembro de 2010


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CÓDIGO DE CONDUTA

Quando os segredos se acoitam no luar
ressaltam da noite as encruzilhadas
contos antigos que nunca escreverei
equívocos e lembranças
recargas que carrego na mochila
do silêncio e das dores

contar-te-ei, mais tarde, meu amor,
a reacção das sereias quando o mar –
invertendo a lógica do tradicional conto –
cada noite lhes contar uma história
recriando a filigrana dos dias vividos
num agridoce de sentimentos

voluntária serei, então, fusão
de passado e presente
no futuro que amanheço
no esplendoroso ciclo do sol
nascer – zénite – ocaso

são estas as difusas linhas onde desenharei
as palavras que o tempo apagou
no eterno ritmo deste mar
onde, sedenta, me baptizo -
raiz, alga, espuma.

HFM - Lisboa, 12 de Agosto de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010




um canto silente
nas pedras que falam


ao sol gargalhava a fonte

HFM - Ericeira,8 de Setembro de 2010

sábado, 4 de setembro de 2010



pedras ou palavras? uma calçada de palavras esculpida na pedra. simplesmente as pedras que cantam. ou ainda, e tão só, um desvario de calor numa tarde de agosto.

não te explico a divagação. há nos seres normais momentos em que a loucura roça bem perto. no limiar da imaginação e dos lábios. momentos em que na pele se ouriçam todas as escutas. todas as atenções. mergulhados no momento as possibilidades são imensas. divagantes. diletantes. seguras.

falemos então das palavras empedradas ou das pedras das palavras. uma semântica de rituais. uma teoria desenvolvida na práxis. ou qualquer outra forma por absurdo que consigamos abarcar.

prefiro pensar que não passa do sucedâneo de uma tarde de agosto encalorada. e do mar que não avisto. e desse local onde gostaria de ancorar.

ele há dias de loucura... abençoados.




HFM - Lisboa, 16 de Agosto de 2010


quarta-feira, 1 de setembro de 2010



A tela do teu corpo - textura de renda e de luar. Um ocaso de madrugadas onde me disperso. Espuma que o mar guardou num dia de tempestade. Ali, só o tempo é o marco miliário. A pedra que nenhum outro tempo destruirá.

domingo, 29 de agosto de 2010


Abadia normanda de Jumièges



Quem te disse que nas ruínas está a alma das coisas? Conheces a sabedoria?

Realmente é nelas que a aranha desenha as suas mais belas teias - rendas que o orvalho desponta.




HFM - Lisboa, 20 de Agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Escritos






Um soluço e uma pena habitam a memória neste dia de sol que invade a cidade. Parece que a nostalgia veio para ficar. Como um pregão. Ou uma fuga. Nesse soluço que mais parece uma falha de respiração. A luz está agreste e talvez ela o tenha construído como uma muralha. Abstracta. Mas é lúcida a nostalgia. Em diálogo comigo onde estou longe de estar k.o. Vou-lhe dando pasto. Vou-lhe avivando a memória. Contudo, recolho em mim, as imagens onde não quero navegar. “Navegar é preciso”!; é sim, meu amigo, mas há momentos em que a inacção se deve sobrepor, de preferência uma inacção tipicamente britânica – uma perfeita idleness.

Fica, então, essa pena embrulhada no soluço e a respiração do náufrago que parou de navegar.

“Tanto mar”!. A ele voltarei quando, encrespada a costa, os seus verdes se reflectirem no azul e pacificarem o soluço; então, permitirei que o veleiro se faça ao mar numa arriscada manobra torneando o cabo de todos os murmúrios.



HFM - Lisboa, 25 de Agosto de 2010


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Do diário





In silence - de Chiharu Shiota


O silêncio socorre-se dos labirintos por onde se esgueira. Aí reina. Aí domina. Aí se centra no interior e no fundo das sombras. Nele me sento. Rente, rente à borda da vida. Cantando para dentro as mágoas que o silêncio impede que se soltem. Como uma promessa adiada que nunca se cumprirá. Fogo que ninguém vê. Roturas que apenas pressinto. Sinónimos vagos de uma língua que desconheço. E a solidão.

Só o mar vigia e espera.


segunda-feira, 23 de agosto de 2010


Mão amiga fez-me chegar esta preciosidade que vi há muitos, muitos anos - digamos mesmo no século passado! Obrigada





sexta-feira, 20 de agosto de 2010


René Magritte


Retenho a respiração. Só o vento a invadir a garganta. O vento e o murmúrio. Um sopro. E de novo a respiração. Lembrando-me a condição humana. Tipo ferrete. Fecho os olhos. Respiro. Afinal sou humana. Mas cá dentro a insurreição começou. De olhos fechados. Respirando. Congrego os sentires e parto para algures, como numa ausência, como se a respiração fosse apenas essa palavra de culto na actual sociedade portuguesa - um fait divers.

HFM - Lisboa, 18 de Agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010




uma árvore sobre o oceano. ilusão de óptica. de distância. um pequeníssimo ilhéu a que a árvore se ancorou. sem medo. silente. calma. entortando-se como se a sede a prolongasse. desafiadora como uma criança mimada. atenta que a onda, ao brincar, aleija.

como a árvore me quero plantada. em guarda. observando.

envolta no silêncio do tempo, do espaço, da água, dos deuses.






HFM - Lisboa, 16 de Agosto de 2010




segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Silly season

boa para descobrir a minha própria cidade.













Para mim uma exposição a não perder. Uma Graça Morais diferente das últimas exposições que dela vi. Muitos desenhos, muito pastel, muito carvão e sempre a sua sensibilidade dominante quer no traço quer na forma como vê e nos mostra a parte oculta das nossas gentes e a singeleza de uma folha de cerejeira ou de um ramo de oliveira.

No Palácio Anjos em Algés até meados de Setembro.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Da mudança


passada a tempestade
na ausência dos sorrisos
com a terra sem raízes
e secos os poços
toldaram-se-me os olhos

reconheci-me na imagem das árvores
mortas.

HFM - Lisboa, 13 de Agosto de 2010



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quando a claridade não alumia




Uma sentida homenagem aos nossos bombeiros.