quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sem título

Sobra-me do anverso o reverso
e a enorme sofreguidão do intante

uni-os na pétala do teu olhar.

HFM - Lisboa, 26 de Janeiro de 2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Das manhãs


Há sorrisos que têm alma

quando o vento escorre dos cumes
e o vale se solta em sinfonias
por escrever

são assim as manhãs de frio
que o sol incendeia

amplitudes oceânicas.

HFM - Lisboa, 26 de Janeiro de 2010



sábado, 23 de janeiro de 2010



é o farol incendiando as ondas
e a planura dos nervos
visionário ergue-se para lá do horizonte

cello tangendo espuma.

HFM - Lisboa, 23 de Janeiro 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Do diário



da ruína sobressai a coluna. única. quase intacta. leitura de um passado. aceno de um futuro. diário de bordo de uma pedra falante. bússola onde o norte do tempo nunca escapa ao sul - fusão de contrários.

na cidade perdida que a areia ocre invade impõe-se a coluna. verdadeiro marco de vivência.

como um sentimento que o tempo não consegue esbater.

HFM - 18 de Janeiro de 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Do diário



HFM


A memória nunca se combate. A sua lisura infiltra-se em cada póro, em cada nódulo dos dedos afagando a vida no instante do passado.

A memória anda de mão dada com o tempo martelando, em nós, a vida, o cansaço, as horas e toda a limpidez com que nos reflecte na amarga percepção do que já não somos.

Memória - estrada incerta onde mapeamos a vida.

HFM - Lisboa, 13 de Janeiro de 2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sem título


na escala do teu sorriso
perdi o mundo e as mãos

segredos sem fronteiras.



HFM - Lisboa, 18 de Dezembro de 2009

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Do diário


Nas manhãs em que a chuva afasta a poeira corre na cidade um frenesim tonto. Melodias de buzinas entoam os cânticos que os carros compõem e a severidade dos rostos mostra como a orquestra da chuva desafia no ar a melodia. Interiores sem beirais. Labirintos que não encontram personagens. Nevoeiros espalmando na alma as angústias.

Vai longo este inverno de frio, de chuva, de desalento. Um pouco de sal talvez espevite o sol. Um pouco de esperança talvez atice os homens.

Faz falta um pouco de encanto. Ao fundo vislumbra-se uma réstia sem bruma, será miragem?


HFM - Lisboa, 12 de Janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010



cosi a sílaba à palavra
alonguei na cadência o ditongo
na imponderabilidade do espaço
soou uma profecia
atrevi-me

é teu o poema!

Lisboa, 12 de Janeiro de 2010


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Diurnos


Só o sopro acalmando a secura e o som de Boccherini alargando no ar os sons.

Assim se pacificam as manhãs de frio. Assim se percorrem as estradas desconhecidas. Os atalhos e os não caminhos.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Citando # 203


O tempo leva tudo e deixa-me apenas fragmentos sem forma. Escrever: tentar meticulosamente reter algo, causar que algo sobreviva; arrancar alguns pedaços precisos do vácuo à medida que ele cresce, deixar algures um sulco, um traço, uma marca ou alguns poucos sinais.

Georges Perec

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Do diário


O vento corria ao arrepio e, arrepiadas, as pessoas mergulhavam em si na sombria sombra do sol de inverno que, banhado em chuva, hoje se cobrira de sol. Um sol baixo e tímido a que nos amparávamos não fora o vento barbeando nas pessoas a vida.

Sorriamos uns para os outros naquela dualidade - sol, vento. E, aconchegando o cachecol, atravessei a cidade na réstia de um novo dia.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sem título


Retirei aos dias as horas
na ausência libertei-me


esfumei-me no infinito.


HFM - Lisboa, 14 de Novº de 2009



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sem título


Nos teus olhos de silêncio e bruma
afogam-se reflexos e espelhos

em silêncio grita um cello.



HFM - Lisboa, 10 de Dezembro de 2009



sexta-feira, 1 de janeiro de 2010




Quando a loucura passar pelo olhar não haverá problemas.

Quando a loucura passar pelos factos problemas não haverá.

Agora se te situares no plano inclinado ou na esquina onde o vento seca na pele os lábios, então prepara-te; por aí surgirão os problemas. A loucura invadirá sorrateiramente os escaninhos da tua memória e construirá, malgré toi, uma estrada de lava que não dominarás, onde o sol não se põe, onde o fogo domina sem queimar, onde o vento seca nos lábios as palavras prometidas, onde os rostos se apagam na sede da visão, onde a presença é a constante do exílio. Sofre, então, em silêncio. Ninguém resgatará as tuas dores. Ninguém adoçará os momentos mais duros. Ninguém saberá onde reside a tua alma.

Mas, se apesar de tudo, conseguires dobrar a esquina e subir o plano inclinado então, amor, o mundo é teu e poderás recomeçar.



Lisboa, 1 de Janeiro de 2010