quarta-feira, 30 de junho de 2010

Para ti, Mãe

no silêncio só memórias
mapeando a nossa vida
como num jogo
em que nos entretinhas
ainda a alegria
e no côncavo da ausência

o teu sorriso.

HFM - 30 de Junho de 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Açores 2010 - Festas do Senhor Santo Cristo IV


Uma sucessão de fotografias tiradas na procissão de domingo do Senhor Santo Cristo. Impressionante as quatro horas que levou a passar toda a procissão e a quantidade de intervenientes que nela se integram.

Desta procissão muito haveria a falar, por exemplo, do choque que tive na passagem das mulheres de negro vestidas das mais velhas às mais novas e completamente separadas dos homens.

No meio da procissão não pude deixar de notar os homens de auriculares no ouvido - era a hora do jogo em que o Benfica se sagrou campeão!

Num rápido remate dizer que senti ali um ambiente pesado e de devoção que me fez lembrar as procissões na Póvoa do Varzim da minha infância.























sexta-feira, 25 de junho de 2010



De que me serve a revolta? uma voz passeando no vazio. Apenas mudamos o nosso interior. E a custo, convenhamos.

Falar contra a justiça? Mas ela existe? Nunca a vi quando os tribunais especiais reinavam neste país. Também agora a não vejo e, contudo, julgamos viver em liberdade.

Falar desta política? Nessa já não caio. Areia escorrendo na mão da criança.

Falar dos abismos? Ainda posso cair dentro deles!

Aferrolho a revolta em mim, desenho um sorriso de aparência credível, assobio para o lado e guardo no bolso da alma a revolta que em mim se propaga.

Assim se desafia o calor e esta coisa a que deram o nome de “crise” que não sei se será a do futebol, se a monetária, se a da falência desta sociedade se ainda e, sobretudo, a da crise de valores que nos vem caindo em cima há alguns anos.

Talvez o sol e a água da praia lavem a revolta e a escondam nos corais que se estão perdendo e os multipliquem para que o universo ainda seja possível.



HFM - Lisboa, 14 de Junho de 2010



quarta-feira, 23 de junho de 2010

Açores 2010 - Festas do Senhor Santo Cristo III

O enfeite das ruas por onde o Senhor Santo Cristo iria passar que se foi fazendo na manhã de domingo. Apenas uma pequena amostra para não me tornar redundante. Gostei de ver o fervor com que aquela gente decorava as ruas apesar de uma chuva miudinha que, por vezes, persistia em cair.


















segunda-feira, 21 de junho de 2010

Anoitecidos


imagem da net



e ela pensava naquilo que poderiam fazer. no muito que ainda tinham para se dar. pensava. e, contudo, sabia que tudo era sonho - ou ilusão, se preferirem. a sua vida estava cortada. já cortada, ela sabia-o. ali, só os sonhos que teimavam em persistir, existiam. os passos levavam a nenhures. e, quando o sol aparecia, os raios caiam sobre o mar, filtrando o sonho na rede da espuma. tinha-se esvaziado o oceano num dia em que a escolha lhe caira, qual guilhotina, na sua vida. e o mar desaparecera dos abafados limites que lhe estavam atribuídos.

no búzio ecoava o vazio.

sábado, 19 de junho de 2010

Açores 2010 - Festas do Senhor Santo Cristo II


A decoração das janelas das ruas por onde iria passar a procissão do Senhor Santo Cristo no domingo.












quinta-feira, 17 de junho de 2010

Açores 2010 - Festas do Senhor Santo Cristo I


A procissão de sábado do Senhor Santo Cristo











terça-feira, 15 de junho de 2010





não, não trago no bolso as palavras. passeiam-se comigo. em mim. transmitem o insólito na pedra de cada som com que as construo. são em magenta estas palavras. calcinaram cores, sangue, espantos e os restos de água com que as embrulho. água do mar, obviamente. salgada. batida. unida nas ondas em que se desfaz.

não, não trago no bolso as palavras - balbucio-as como num acto de amor.

HFM - 12 de Junho de 2010



domingo, 13 de junho de 2010





haikai

a onda invade a praia
brilham na areia
conchas e búzios.

Ericeira, 2 de Junho de 2010



sexta-feira, 11 de junho de 2010





Nada sei dos críticos nem da crítica. Quero escrever. Apenas. Sem rótulos. Sem estruturas. Sem fontes. Nada de escrita alinhada. A minha. Chega-me. Abomino os críticos. As suas leis. Os seus gostos esteriotipados e de acordo com o momento vigente e a subreptícia norma dos que nele mandam. As suas snobeiras. As suas animosidades. O seu patetismo. Cala-te, Afonso, escreve a tua escrita. Apenas a que tens para dar. Lembra-te quando dizias: - Eu só compito comigo! (que palavra horrível “compito”! raio de língua!). Pois é isso mesmo, a escrita é só contigo. A empatia, ou não, do leitor. Pelo meio esquece essa classe que, sem custos, vive à custa dos que escrevem. Escreve, Afonso, despe os cheiros nas palavras.


HFM - Ericeira, 4 de Junho de 2010



quarta-feira, 9 de junho de 2010



O tempo fugaz em que o mundo nos pertence -
- ausência de pontos cardeais.

HFM - Ericeira, 30 de Maio de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mar e Cabo





O mar baralha todos os labirintos. Indomável nunca se aconchega. Surfa as rochas. Invade a terra. Desfaz artesanatos humanos. Cerra-se na sua pureza e na força de que é talhado.

Junto a ele procuro a paz e a lisura do seu afago. Não trai. Só não admite a insensatez. Agrada-lhe o respeito. Despreza os que o tentam destruir. Barra-os a direito sem tergivações. É uno na aparente dureza da sua simplicidade.

Encosto o olhar ao Cabo lá ao fundo, na distância que a bruma adensa e penso que estes dois pilares, mar e Cabo, me ensinaram a desprezar grande parte dos valores que dominam a actual sociedade e, acima de tudo, os fazedores de “gostos” miméticos, aqueles que usam a impunidade para nos impor uma vida sem sentido, sem valores, desumana, sisuda e plena de boçalidade.

Não, o mar não está zangado, digo-te. O mar apenas se defende da agressividade destes novatos que o tentam invadir. Do alto dos seus longos séculos apenas os despreza e com uma vaga maior repõe-os no seu devido lugar indiferente às mossas ou feridas. E o Cabo, altaneiro, gargalha, no eco das suas pedras que o mar foi cerzindo.

Mar e Cabo dois marcos que me construiram e me ensinaram o valor da transgressão.


HFM - Ericeira, 2 de Junho de 2010



sábado, 5 de junho de 2010

Sem título





Na pedra me desfaço
em pó dos dias
ensalivando mar.

HFM - Ericeira, 2 de Junho de 2010



quarta-feira, 2 de junho de 2010

Das encruzilhadas





Na noite - o silêncio
estranha forma de murmúrio
onde silabam as palavras por dizer
e o acento desgovernado da apatia
lê-se e não se reconhece no conteúdo
o emissor
apenas o tom azulado das sombras
apagando da memória as pegadas.

HFM - Lisboa, 26 de Maio de 2010