quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sem título

quando não houver linha
entre o passado e o teu futuro
aí construirei a minha casa.


HFM - Ericeira, 23 de Junho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sem título


Sempre que me faltas
só o vento me habita.

HFM - Lisboa, 19 de Julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010




Se eu te contasse da noite o luar
sentirias a frescura da cisterna
onde se atrevem os sons do cello
e todo o mapa das instabilidades

sôfregos são os silêncios da noite
no incontornável som das águas.

HFM - Lisboa, 1 de Julho 2010

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Na bruma duma manhã de Julho






viajante perdida sem bússola
afastei-me do norte
roubada que fora a estrela polar

sobrou-me o mar
as ondas e o cantochão

em terra firme
vou soletrando labirintos.

HFM - Ericeira, 8 de Julho de 2010



segunda-feira, 19 de julho de 2010

Uma tarde a não esquecer




com Charlotte Rampling e Polydoros Vogiatzis e na guitarra Varvara Gyra.

Um pathos grego servido em textos de Yourcenar e poemas de Cavafy. A sobriedade do décor, das vozes e das poses.

De Charlotte Rampling não falerei, todas a conhecemos. Tenho, contudo, de salientar a carga da língua grega servida pela voz modelada de Polydoros que, em nada, ficou atrás da de Charlotte Rampling.

Um encenação bem conseguida com parcos recursos como convinha à enfase a ser dada aos textos.

Um espectáculo imperdível que apenas teve duas representações.



De Yourcenar seria difícil escolher um texto ou procurar nos seus vários livros os pedaços de texto que foram lidos; assim deixo dois dos poemas de Kavafy que ali esteve em destaque na segunda parte - o Amor



Che fece .... il gran rifiuto



To certain people there comes a day
when they must say the great Yes or the great No.
He who has the Yes ready within him
immediately reveals himself, and saying it he goes


against his honor and his own conviction.
He who refuses does not repent. Should he be asked again,
he would say no again. And yet that no --
the right no -- crushes him for the rest of his life.


Constantine P. Cavafy (1901)


Ithaque

Garde toujours Ithaque à ton esprit.
Y parvenir est ta destination finale.
Mais ne te hâte surtout pas dans ton voyage.
Mieux vaut le prolonger pendant des années ;
et n'aborder dans l'île que dans ta vieillesse,
riche de ce que tu auras gagné en chemin,
sans attendre d'Ithaque aucun autre bienfait.

Ithaque t'a offert ce beau voyage.
Sans elle, tu n'aurais pas pris la route.
Elle n'a rien de plus à t'apporter.

Et même si elle est pauvre, Ithaque ne t'a pas trompé.
Sage comme tu l'es, avec une expérience pareille,
tu as sûrement déjà compris ce que les Ithaques signifient.

sábado, 17 de julho de 2010

Quando a natureza pinta






















Parque das Furnas - S. Miguel.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sabedoria


na areia encosta a cabeça
entranha-te com o sol na tua pele
goza o momento


o mar lavará todas as dúvidas.

HFM - Ericeira, 14 de Julho de 2010



terça-feira, 13 de julho de 2010

Reconhecendo a fronteira

Sabia da fronteira
no imaginário aconchegada
desconhecia-lhe as leis
e as arbitrariedades

entre o céu e o mar
fluia um respirar intermitente
e o quebrar oscilante da onda
quando o percebi
apaziguei
do outro lado
qual fantasma
o desconhecido
e todas as possibilidades

no meio
nessa terra de separação
a vida

aí queria acostar.

HFM - Lisboa, 9 de Junho 2010

domingo, 11 de julho de 2010

Quisera repetir-to



Vou-te dizer apenas que no mar a vida se propaga em sítios incógnitos e inóspitos. Desconhecidos. Tal a vida. Por isso esta vale um poema. E um sorriso. E quando, com o equinócio, regressar a intempérie saberemos que se mergulharmos a onda passa, tal a caravana.


Não tenho um poema mas tenho um sorriso e toda a imensidão do mar.


HFM - Lisboa, 10 de Julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Reaprendendo

"Le but suprême du voyageur est de ne plus savoir ce qu'il contemple.Chaque être, chaque chose est occasion de voyage, de contemplation."

Lie T'seu




Sonâmbula me quis
ou me inventei
atravessando as paredes da memória
na noite dos dias
no sono das gentes

uma corrida por labirintos
na ausência do tempo

sempre viajante dos delírios sem rosto.




HFM - Ericeira, 6 de Julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010




O viajante quando parte sintetiza na dor da partida todas as viagens, a sua essência, os medos, as descobertas, as dúvidas e, acima de tudo, o espanto.

A chegada é um momento nobre e pleno, inchado de esperança, aberto à inteligência - um mundo a descobrir onde as possibilidades e as certezas se completam e entrechocam, mas é no regresso que tudo se congrega. Aí, em sedimentos variados, desdobra-se o arco-íris do vivido - cores fortes versus cores pálidas - cores preenchendo espaços e cores transbordando desses espaços como se não houvesse limites. Assim é feita a partida, daquele sentimento mágico que fica depois de ainda nada estar interiorizado; onde, falha a análise serena sobre o vivido, resta a alegria que a energia desdobra nas franjas e nos vendavais da alma.

Quando partires sorri sempre - encerra-se um ciclo e há a tendência para a tristeza; pensa, contudo, que com o vivido, abriu-se dentro de ti a possibilidade de novas experiências e a sabedoria da comparação e a simplicidade de aceitar que, para lá do já conhecido, há fluídos que nunca se esgotam e que só aos viajantes é dado conhecer.

Esta é a essência do viajante - a renovação sedimentada no adquirido, a sabedoria do muito que sopra no vento do olhar e da alma onde, um dia, a calma há-de aportar.

E é quando cansados, no final da viagem, encerramos os olhos que a poesia do tempo, o prazer e a sabedoria se unem numa palavra - AMOR.

domingo, 4 de julho de 2010

Conversando



Quando as folhas cairem no Outono
perceberás porque as águas secaram no Verão

os espelhos filtrarão os enigmas.

HFM - Lisboa, 3 de Julho de 2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Citando # 205

- Também pensei num modelo de cidade de que deduzo todas as outras - respondeu Marco. - É uma cidade feita só de excepções, impedimentos, contradições, incongruências, contra-sensos. Se uma cidade assim é o que há de mais provável, diminuindo o número dos elementos anormais aumentam as probabilidades de existir realmente a cidade. Portanto basta que eu subtraia excepções ao meu modelo, e proceda com que ordem proceder chegarei a encontrar-me perante uma das cidades que existem, embora sempre como excepção. Mas não posso fazer avançar a minha operação para além de um certo limite: obteria cidades demasiado verosímeis para serem verdadeiras.

Italo Calvino - As Cidades Invisíveis