segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Para o meu pai, no seu dia

 
 
HFM
 
 
 
Aproveito o silêncio que ainda ecoa em mim. O silêncio - um estado interior em que, por vezes, me sentia reconfortada, como se tudo fizesse sentido. E não fazia.
 
Uma semana volvida sobre o retorno das ilhas o eco está cá dentro. Impeço-lhe a actuação. Tenho medo que se esgote e preciso desta provisão de silêncio. De um bem estar que nada tem a ver com o mundo exterior apenas com esses dias vividos num meio diferente, com tempo, com calma onde duas forças se completam e me unificam - o mar, os verdes.
 
Nesse eco estão esculpidas todas as histórias que ainda não me contei. Nesse eco vive a harmonia. Nesse eco transparece um mar, mutante na cor, perene na força e beleza. Nesse eco sinto a força telúrica de uma ilha que não acompanha o tempo da cidade que habito e pela positiva. Nesse eco confundem-se imagens e vida. Nesse eco há ainda e não é displicente a amálgama dos dias de férias, despreocupadas e bem aproveitadas. Nesse eco ressoa ainda o medo quando o vento e a chuva da "Nadine" me pregaram um grande susto. Esse eco plasma-se nos desenhos dos diários gráficos para onde tentei passar olhares, visões, fantasmas, fantasias e toda a panóplia de registos que ocuparam os meus dias.
 
Trago nos olhos o cheiro das ilhas que invento, no olfato, que não tenho, a visão que cravei em mim, no gosto o gesto táctil dos desenhos que fiz e no tacto o gosto da pimenta da terra que me ensaliva o coração.
 
Até breve ilhas que se perderam no meu imaginário e no meu contentamento!
 
Lisboa, 1 de Outubro de 2012
 


3 comentários:

Ad astra disse...

quando a beleza das palavras e da imagem se aliam formando um sentir com toque de "ilheu"

perfeita homenagem

jrd disse...

A beleza do texto e da imagem foram certamente bem recebidas.

Abraço

Hanaé Pais disse...

Pai, porque me deixas-te, quando me prometes-te para sempre a tua mão?
Pai, porque partis-te e eu caí nesta desilusão?
Pai, porque me seguis-te, não me largas-te até eu te dar o meu coração?
Pai, agora um silêncio de morte e a minha total escuridão.
Oh pai, perdida/o eu aqui fico a aguardar no meu corpo na minha alma, para toda a minha vida uma completa devastação.
O teu silêncio meu pai...

Um solilóquio, muito intenso.
Um silêncio com tanto ruído.