terça-feira, 31 de dezembro de 2013

 
 

domingo, 22 de dezembro de 2013

 
 

 
Para todos os amigos. 

 Junto um dos mais belos poemas de Natal que conheço e que, num momento de crise como a actual, penso ser ainda mais pertinente.

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
 
 
David Mourão-Ferreira

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

 
 

 
 
 
Circunscrevi no silêncio as horas
desenhei a eternidade.
 
HFM - Lisboa, 28 de Novº de 2013
 


segunda-feira, 18 de novembro de 2013


 
 
 
quando do chão os pés não se soltam, o ritmo distorce a ânsia e desvaloriza a serenidade. só  na noite o silêncio compõe a sinfonia que as ondas exibem no palco do mar e os anzóis amarram-se nas artes dos velhos mestres, hoje, sem barcos.

assim vai a incúria. assim, no labirinto, apetece-me  desistir.

não, não o farei – antes quebrar  que torcer; como as árvores que gosto de desenhar, também eu quero morrer de pé.
 

Lisboa, 18 de Novº de 2013
(fotografia retirada da net)

domingo, 20 de outubro de 2013

Escritos

 


Quando nos dias se encerram as memórias flui no tempo um vagar insubmisso que o papel afaga - ora nas palavas, ora nos traços - breviário de omissões que, na pele porosa do papel, deixa marcas e guarnições.

Quanto mais na vida se acelera o quotidiano mais eu retenho as horas no astrolábio dos resistentes. Lenta, lentamente, permito ao tempo a serena cabotagem de outras perspectivas - sinais abertos a todas as direcções.

Assim me refresco. Assim me purifico. E no que outros acham não ter sentido, eu pergunto: - e há sentido na vida? Recuso-me a entrar na factualidade do momento Cada um o sente e o julga à sua maneira.

Na manhã indefinida e tristonha sigo as contas de um rosário que desconheço e, em cada apeadeiro, procuro o sentido, a justiça e todos os meus segredos. Depois prossigo. E repito, Há, contudo, um objectivo que nunca descuro - a liberdade - a minha - a da escolha que cabeça e coração sabem poder e dever construir. Aí reside a minha casa, na sombra dos arbustos, no silêncio do lugar, no tempo das perguntas cujas respostas, inevitavelmente, conduzem a outras perguntas.

Assim sou. Assim me quero.

HFM - Lisboa, 16 de Outubro de 2013

terça-feira, 20 de agosto de 2013

 
 



Só a leveza da madrugada
reflecte no olhar o sorriso

no horizonte espreitam os trilhos

HFM - Lisboa, 20 de Agosto de 2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Do diário


 
Não te conto a história. Seria ridículo no calor dos dias. Seriam soturnas as horas que levasses a reflectir nela. Só te agradariam se passasses para o outro lado do espelho e te questionasses. Fora disso, na servidão dos dias, todas as explicações seriam terríveis e devastadoras. Repara que falei de explicações, não de justificações. Um abismo entre estas duas palavras. Como os grandes espaços a pique no Grand Canyon americano. Como as pontes romanas em ruínas por incúria ou por falta de cultura. E isso importa? Não. Este é o país. Estas as suas gentes.

Olha, reparei agora; do outro lado do espelho há uma outra que ri. Ri mesmo. Não, não é um sorriso. É pior do que isso, o hiato entre o sorriso e a gargalhada. Devastador. Mas esta posso eu fintar. Basta-me virar-lhe as costas. É apenas a minha imagem reflectida no espelho. O alter-ego de quem posso desdenhar e de quem me posso esconder. Que posso matar, basta apenas não olhar para lá. Tão simples! E, contudo, tão infantil! Não sei porquê pensei no teorema de Pitágoras. E logo eu!...

Não te conto a história. Isso é definitivo. Falo-te do tempo. Do calor. Das penumbras. Das dunas. E, se estiveres em dia sim, ultimamente tão raros, talvez também te fale de Florença. Ou de outra galáxia que criarei, onde todos os possíveis são cenários prováveis que povoarei de pessoas também elas imaginadas. Giro. Daria um bom romance se eu fosse escritora. Assim, com a verve em dia de grande acção, continuarei apenas a debitar uma torrente de palavras mais ou menos com sentido. Apenas para calar o silêncio. Ou serão os silêncios? É parva esta língua onde apenas uma letra faz toda a diferença. Isto não é próprio da “silly season”, faria mais sentido num salão literário do século XIX.

Ainda aí estás? Sim, já percebi, estás-me a ouvir. Pensando noutra coisa, seguramente. Por isso esqueces quase tudo. Paciência. Nada a fazer. Apenas afastar-me do espelho e apagar os silêncios.

Boa tarde.

 

HFM - Lisboa, 2 de Agosto de 2013

sábado, 22 de junho de 2013

Nas Ruas de S. Bento - exposição dos Urban Sketchers de Portugal na Fundação Mário Soares

 
 

 



Deixo aqui os meus trabalhos patentes na exposição acima referida. Calhou-me a Rua das Francesinhas onde felizmente havia muitas árvores pois a arquitectura eu não domino.

Aconselho uma visita pois a exposição está muito bem montada e tem desenhos muito bons dos nossos "pesos pesados" dos sketches. Está patente ao público apenas as 3ª, 4ª e 5ª feiras e é bom consultar o horário no site da Fundação.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Poema inicial

 
 



Os olhos eram sorriso
na transparência azul do mar

a ternura -
paleta infinita onde se misturavam
as cores de cada sorriso

no caleidoscópio do ohar
recriava-se o arco-íris.
 
HFM - Lisboa, 14 de Junho de 2013

sexta-feira, 7 de junho de 2013



Quando a sombra se ausenta
a roupagem veste de cor
a luz

incendeiam-se nos labirintos
os silêncios.

Ericeira, 5 de Junho de 2013

terça-feira, 4 de junho de 2013

Diurnos



da net

Olhava  a sombra. Melhor as sombras. Espelhos acentuando os espaços. Esgares que a luz inventava. Oceanos de contrastes. Na sombra projectada  iniciam-se as histórias. Pelo menos comigo. Desde esses tempos recuados da infância quando, na casa de Campo de Ourique, na  sesta, então, obrigatória, eu me exilava do sono para, nas silhuetas invertidas que se projectavam no tecto depois de transporem uma nesga entre a janela e as portadas de madeira, iniciar as histórias que contava a mim própria.

Hoje, no sol que finalmente se apropriou destes dias de Junho, as sombras assombraram-me. Alargaram, na memória, o passado e, como num exercício de descodificação, preencheram no presente o seu vazio. Toques. Sobreposições. Desabafos. Certezas. Tudo isto se espraiou nas sombras com a força com que este mar da Ericeira nos mimoseia. Diga-se, em abono da verdade que, hoje, excepcionalmente, o mar até está de “patos”!

Voltemos às sombras. Às sombras que unem – fios condutores da vida – entre a luz e a sombra e todos os cambiantes que circulam nos seus interstícios.

Encostei o olhar ao mar. Deixei-me seduzir pelo canto dos búzios. No remanso da maré adormeci a revolta e, outra vez criança, pensei que a história que a sombra me iria contar era melhor que toda a luz fictícia deste reino desmiolado em que teimamos em viver.

Contudo, a sombra vinha vazia. Apenas sombra. Um escuro na luminosidade. Um silêncio duro e sem eco. Uma vaga a que faltava a espuma.

Tinha-se partido o fio condutor, só podia ser. Ou seria cansaço? Meu? Ou da sombra?

No torpor de um calor envergonhado não me apeteceu questionar-me. Encolhi os ombros. Encolhi a sombra. Encolhi mais um pouco o esgar dos dias. Já vai sendo habitual. Como uma litania. Um advérbio de modo. Ou será de lugar? O meu verdadeiro lugar na sombra.

Por uma tarde evadi-me. Ausentei-me. E não me dei mal.

 

Ericeira, 4 de Junho de 2013

domingo, 2 de junho de 2013


sorri ao mar
a borboleta cortejava a papoila
o sol invadia o espaço

um pouco mais
teria tocado o absoluto.

HFM - Ericeira, 1 de Junho de 2013

segunda-feira, 27 de maio de 2013

 
 

foto de HFM
 
 
alheio-me.  esgrimo diálogos dentro de mim. ensurdeço o tempo tapando-lhe o espaço. apenas porque não sou mágica. se o fosse roubava o espaço. mastigava-o. absorvia-o. depois prolongaria na retina os lugares. os reais. os imaginados. os desconhecidos.  sorrindo, sabia então que, senhora do espaço, o percorreria - viajante sem passos na cauda de um cometa invisível. a viagem não seria recurso. mas causa. mas forma. sede, ainda.

filtrava, então, o olhar e, desfeita de conhecimento, viveria. chama na cisterna onde a água nunca se apagaria. cavalo percorrendo a lezíria junto a um trilho de água. o mar, ainda. feita onda ou limo; também rocha. na raiz das árvores centenárias depositaria o invólucro adormecido.

só assim, os dedos pontuariam, num espelho intemporal, a brisa dos dias.

HFM - Lisboa, 24 de Maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Da harmonia




Na quietude esbranquiçada da manhã
a calma envolve-me
nas palavras do livro que dedilho
vidra-se-me no olhar o oceano
e a ternura da brisa
ondulando o canavial
respiro vida e dessedento-me
na natureza verde azul que me circunda.

HFM - 22 de Maio de 2013 - Ericeira

quinta-feira, 16 de maio de 2013

carta



dir-te-ei que o sol já chegou
os gatos apareceram
e que no caminho desperto
se infliltra na carne
o toque

nunca saberei onde o mar começa
ou termina.

HFM - Lisboa, 7 de Maio de 2013

terça-feira, 30 de abril de 2013

No país dos náufragos


 
 
da net



 
Era só o silêncio
o eco da solidão
silente, ausente
um farrapo de sombra
entontecendo a aurora


e o passo compassado das palavras
arrastava-se nos dias
selando a dor.



HFM - Lisboa, 30 de Abril de 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Museu Nacional de História Natural e da Ciência

 
 
 


Esta fotografia daria para escrever muitas histórias.

Fica apenas o que escrevi enquanto olhava para este mineral.

E fora da gruta os Magos adoravam o Menino na escuridão da noite que, contrariando a história, nenhuma estrela alumiava.

HFM - 09.04.2013

sexta-feira, 22 de março de 2013

Sem título


Ressoava nas palavras
o silêncio
compondo no eco o poema.

HFM - 10.03.2013

terça-feira, 19 de março de 2013






Idos eram os tempos
e os fantasmas

como tormento o mastigar dos dias

na bagagem
só as fagulhas da memória.
 
HFM - Lisboa, 19 de Março de 2013

domingo, 10 de março de 2013

Visita à casa dos Marqueses de Fronteira e Alorna

 

 

 

 

 

 


 

 


Apesar do dia chuvoso permitiu-nos passear nos jardins. Deste conjunto de fotografias destaco, para além dos magníficos azulejos, a 6ª e a última. A 6ª pela curiosidade dos pássaros terem cara de homens. A últim,a no friso dos elemento,s o do Fogo estava em muito mau estado e o actual Marquês mandou retirar os azulejos que guardou e pediu a Paula Rego que fizesse a interpretação deste elemento apenas respeitando as cores principais deste conjunto de azulejos. Aqui a reprodução que as deficientes condições de luz e por ter sido tirada com telemóvel não conseguiram realçar.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Sem título



Ausentam-se na tarde os corpos
quando o céu disputa as Parcas

da tarde escorre um cantochão.

HFM -  Lisboa, Fevereiro 2012

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Quando ainda há ilhas de paz e silêncio

 
 

Algo diferente. Uma aguarela feita da varanda da cozinha da Ericeira sobre o mar4.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

 
 
 
Roubada a alguém ;)
 
 
 
Não era bruma eram as histórias cruzando-se no imaginário do mar, eram as cores bailando no vento e na confrangedora indolência dos dias, eram ainda os traumas escondidos e toda a panóplia das metáforas.

Histórias, sim, embrumando a lisura do caminho, cimentando nas rochas o medo e os limos da vida. Histórias, sim, provocando as danças de roda que trazem ao de cima a realidade do imaginário. Hist...órias, sim, secando no grito da gaivota os ecos de raiva que construímos. Histórias que eu prolonguei no passeio no paredão que, de tão reais, mais pareciam fictícias. Histórias que encrustei na grande angular com que desafiei a alma e os medos.

Ficaram alguns rabiscos, sumo dos dias a avivar a memória no gesto simples de "passear a linha". Ficou ainda o mar, presença imutável na minha vida, âncora de todas as derrotas e fonte de imaginação e esperança que ninguém destrói.

Mar - presença, constância, segurança, fio condutor desta barcaça descascada e ressequida perseguindo enxuta o rumo a que se ofereceu.

HFM - Cascais, 03.02.2013


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Ocasionalmente




Labirinto da Catedral de Chartres - França - tirada da net


É na manhã que os sonhos se enrolam
encaracolando as memórias
destruindo os fantasmas
condicionando os passos
nas cisternas do tempo

nessas manhãs olho o espelho
e percorro o labirinto.

HFM - Lisboa, 5 de Janeiro de 2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013



da net


O cimento dos dias arredonda a fadiga e o desprezo. Um tom cinza como que abafa este país. Uma voragem unilateral. Desumana. Desregrada. Um retorno só com bilhete de ida. Uma revolta que se (des)amansa e ferve, vindo por fora, e apagando o lume onde ainda nos aquecíamos. Como foi possível? E ainda nem 40 anos se passaram!
Desponta, na manhã de chuva, um sol pálido como que a encorajar a sobrevivência e, sobretudo, a revolta.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013



A palavra agarra a mão e força-a ao traço que se desdobra em palavras - transparentes, enxutas como esta manhã fria de sol que me devolve a frescura. Assim, consigo no tempo, desafiar o instante.

HFM - 5 de Janeiro de 2013

sábado, 5 de janeiro de 2013

Parque das Conchas

O Parque das Conchas anda a perder as suas árvores a um ritmo impressionante. Não sei a razão mas calculo que a quantidade de betão que puseram no parque deve ter desgastado as raízes das árvores. Eu não percebo nada do assunto mas creio que na Câmara deve haver quem saiba. Será por causa de um dos muitos lobbies que puseram este país no estado em que está? Mau gosto? Incúria? Ou apenas falta de bom senso. Não sei. Sei apenas que as árvores aqui já nem morrem de pé.